vendredi 26 mars 2010

Era uma vez de vaga-lumes


Uma menina nasceu do pó da gelatina que se entornou sozinho. O pó tinha tanto brilho que cada ponto parecia caber dentro um vaga-lume. Quando ficou pronto, entre o vapor e a água fria, nadaram todos os vaga-lumes, desenformando uma menina. Uma vez, ao piscar, um deles soltou-se.
-eu sabia! - disse o livre vaga-lume.
A menina se assustou com a certeza do bicho, já acostumada que vaga-lume fala porque até prosavam de madrugada e a menina sempre lhe contava dos eclipses de pupilas que eram de luz mas o vaga-lume, sempre ocupado com o nada, não ouvia. Até que numa hora letra ela lhe contou:
- você sabia que nada é o partício passado do verbo nascer? - disse a menina
e desde então,do nada nasce tudo o que respira,
foi primeira vez que o vaga-lume ouviu a menina.



Juliana Gelmini
(para Isabela)

fotografia: autor desconhecido

jeudi 25 mars 2010

sobre pupilas

Um jornal que não abro
anuncia misérias:
escapo

Escamas de nuvens
observo do teto
o desviro em céu
nas pontas do que enxergo.

Meu corpo adulto
descensura o confronto:
com o real imposto,
descrito pelos outros.

Olho uma fresta,
me escondo.
- Não é possível que exista!
isto é ficção vendida!

Derramo-me sobre o que leio
umedeço todo o jornal
em borrões de letras
que afogadas, reinventam-se.

das letras teço o relato:
pupilas abraçam-se
no tempo desvirado,
eclipse de luz.

Juliana Gelmini








fotografia:autor desconhecido

mardi 23 mars 2010

Eclipse

foi, então, quando duas pupilas se abraçaram.
Mesmo no escuro, havia luz.

Juliana



Ilustração: Iva Tai

Sobre conchas do mar

Todos os dias, sob os varais, ela estendia notas musicais, até que acordaram mar, abraçadas pelo vento,no dia 11 de março.

Juliana

mercredi 17 mars 2010

Água viva

Minha mão pesava sobre a página
ao levantá-la trazia as linhas
como dançarinas guardadas.

De cada dedo assim pendia
fina linha dançarina.

Chovia, as linhas escafandristas
nas gotas,iam e vinham.

Os dedos acompanhavam
o ir e vir do mudo compasso.

Sob os contornos das finhas linhas
E as gotas, enfim, partidas:
brincavam de ser água-viva
minha muda mão e as linhas.

Juliana Gelmini 17/03/10