vendredi 15 mars 2013

O noivo dos lençóis de sangue

Um dia, como sempre fazia, voltava de ônibus para casa e apertou o sino para descer na próxima estação,mas, ao mesmo tempo, o aperto também foi  do cara estranho, aquele cara que passou a viagem inteira a olhando. Os ônibus eram feitos assim de sinos que estouravam quando algo de humano acontecia. Nada explodiu. Juntos, eles desceram, mas ela acelerou o passo, alguns pombos da rua voaram.  Acenou para a senhora que vendia balas na esquina, fixada nos fios brancos que soltavam do coque firme. Alzira seguiu pela rua, querendo ser nuvem, ainda que sangrasse. O menino do ônibus também, se foi pela rua... a seguindo. Guardava um retrato de Alzira no bolso remendado da camisa de botões, achava isso bonito, os botões e o retrato. Ele trazia os lençóis de Alzira presos no corpo, arrastando ao chão, sujos de sangue. Se não fosse pelo vermelho,parecia véu. Todos o olhavam, Vicente- o noivo do lençol de sangue,como ficou conhecido. O deram por louco e ele até fingiu ser, assim, passava por Alzira todos os dias,sem que ela estranhasse o porquê.   Alzira em frente ao portão,Vicente olhando para o céu. Ela girou a chave, mas a porta não respondeu, estava morta, havia meses. Num clarão, virou como um retrovisor para Vicente, viu os lençóis de sangue,viu os lençóis de sangue, e sangrou, como no dia do crime. O esquecimento,as vezes, nos orvalha.