mercredi 22 avril 2015

Metal contra as nuvens


I
Isla abriu seus olhos tão rápido em piscar, esvoaçando vaga-lumes. Eles brilhavam como se guardassem um segredo e espalhados pelo ar, os vaga-lumes, a guiaram até o Porto das asas que ficava justamente no ali do quintal da sua casa, perto do poço. Lume, o vaga-lume mais amarelo, deu dois rodopios e  declarou "Isla, é esse o plano! Rápido, já é quase meio dia! O sol,  ao olhar seu reflexo na água, ficará distraído pensando se ele é mesmo aquilo e  nem notará que você se aproxima..."- os vaga-lumes riram,riram, riram, mas de desespero e também porque  Distraído é uma palavra que faz cócegas no umbigo.  Lume continuou "Como dizia, ninguém notará seu pulo!"- E apontou para umas nuvens meio baixas - "...naquela direção, rumo à terceira margem do rio!". Isla olhou para trás, viu sua família ao longe, avó, pai, mãe ainda ajeitavam a mesa para o almoço, mas queria saltar para esse não-lugar "Quem sabe lá  despintam de mim tal tinta invisível?". E o sol empurrado pelo Tempo pousou meio-dia. Ela gritou "Quando quiserem me achar, basta seguir a direção dos lumes, em meio as movediças nuvens!". Isla fechou os olhos, abriu os braços - em seu pensamento, eram asas - e  pulou! Gelado nas pontas dos fios,  o vento dançava cada vez mais rápido, "Seria a Morte?", ela pensou. Ao invés do céu, o corpo afundava para o chão.... mas no meio da queda, ela  brincou, "Faz de conta que pássaro sou!" e assim pássaro se tornou.  Isla ainda ia, mas agora em asas  abertas do possível, ao encontro do seu céu, metal contra as nuvens....

 II
Isla pousou na entrada da rodoviária enuvesada, espiou e piou  "Quanta quinquilharia! Quanta velharia! Quanta quantaria! E nuvem não é lugar para o sonho?". Era um comprido corredor, bem espremido e entulhado de abandonos. Além de Isla, outras crianças havia, pássaros de tinta invisível, a espera de outro lugar, ali é travessia. Neste enquanto,  um menino começou a puxar livros em meio as nuvens, alguns  Isla sabia de cor, coração que pulsa! Vários livros tirados entre o branco, eram tantos que tudo foi rodando...os borrões fortes dos livros pintaram água no coração de Isla, outro tango fora da hora. Isla correu, sem saber dizer para onde, entre as crianças invisíveis, até tudo ser tinta, o escuro apenas. O Tempo - trocando seu eterno corpo de água a cada instante - encantou Isla até o quando enfeitado do sino que soasse dentro dos seus sonhos. Blimblemblom! Blimblemblom! Blimbleblom!

III
Ainda deitada no chão, Isla abriu bem os olhos daquela maneira que fazemos para saber se estamos vivos,  "Aonde é o onde?", disse. Estava numa paisagem borrada, parecia  mais jardim de Monet... se o jardim fosse floresta, se a floresta fosse chão batido e se chão batido fosse um marrom que não existe.... Sacudiu o olhar, levantou depressa. Mas o que era aquilo? Árvores de tecidos! O silêncio soprava entre suas folhas de panos compridos, finos, coloridos e altosaltos de história sem fim. Isla correu, deslumbrada, queria  sentir os tecidos, a terra entre os dedos,  o vento... aberta de vida, queria sentir! Se jogou embaixo da árvore mais azul e chorou de forma compulsiva. A árvore azul  trançou seus tecidos compridos em um balanço para a menina. Entre giros rápidos se  moviam, enquanto a árvore chovia, chovia, chovia, apenas para Isla. "É este o nosso segredo", disse entrelaçando as raízes, "A mágica, Isla, ainda existe!"



(Sonho do dia 22/04/15)



lundi 20 avril 2015

Clavesdemar e libélulas



Trombones  sussurram   clavesdemar e libélulas

Meio-dia


uma estrela cadente dança tango,
meio-dia, em pleno engarrafamento,
por dentro, outro amor violento menta...

Aquilo que não digo



Há anos não te vejo, eu só sabia ser meio-dia, latente e você não compreendia. Hoje, pendurei silêncio em meus cílios, ele brilhou como quem anuncia amor no mundo... Presta atenção no que eu não digo, já dizia uma escritora que me faz sonhar... Hoje, saí de branco pelas ruas e trazia uma flor, mas quem notou meu protesto silencioso? Havia tanto afeto em meus olhos e as memórias nossas, um cara tentou levá-las, você acredita? Entreguei outra parte de mim, uma que a mutilação não fosse tão triste, apesar de inevitável. Mas eu não vim para te contar isso...
Faltam alguns dias para o carnaval e a solidão diz que devo buscar uma rota, uma carta, um sino que soe dentro dos meus sonhos, foi assim que você ressurgiu... Hoje, achei o céu tão bonito, brotou tanta paz dentro de mim e eu só queria te dizer...