Querido R,
enfeitei a árvore de natal como você pediu, deixei uma
estrela cadente na ponta, daquela que desiste de cair e faz de conta que
é concha no fundo do mar. Seu cartão chegou pela manhã, num envelope
amassado de vermelho, tremia um pouco olhando assim pelo sol do meio
dia na caixinha de correio. Pisquei algumas vezes para ser certeza, o
barulho do rasgo, carta aberta no meu corpo. Fiquei ouvindo sua voz
enquanto lia, mesmerizada. Achei bonito como você tosse entre os
períodos que começam com letras minúsculas e quando sussurra a palavra
cabum, logo cabum que parece feita para explodir. Dei aquela
minha gargalhada alta, você pode ouvir? Enfeitei com as suas palavras as
janelas, cortinas e a mesa, adocicando algumas frutas prestes a mofar.
Hoje à tarde, pintei um anjo com nuveasas, coloquei teu retrato para
secar, enquanto seu pedido me rodagiganteava.
Quando você vai voltar?
J.