de chuvisco,
de brisa,
um dia, quem diria?
na primeira mordida,
uma nuvem escondida,
pulou um pouco perdida
pela janela inventada
como quadro pendurada
do lado de fora da entrada
Bolinho de chuva
em choro, trovoada
[um pouco torrada]
seu sonho é ser curva
da razão meio avoada
ou bolinho de neblina
assada e divina
um dia, quem diria?
na segunda mordida,
a nuvem começou a funcionar
feito máquina de escrever antiga:
tac-tac-tac-tac-tá
as correntes de ar
[con]versavam sem parar
na linguagem dos ruídos
Bolinho chuvoso,
pela terceira vez, te mordo
gosto de nuvem a funcionar
estranho tac-tac-tac-tac-tá
a respingar gotas de faíscas
da feitura da chuva frita
quando um curto circuito e tanto,
de súbito e de afeto, risca
a palavra relâmpago em branco
no céu da boca que chovia,uma memória azul brilha.