vendredi 24 juin 2016

Mas antes os elefantes a dançar, a dançar, a dançar sobre meu corpo aberto






Mas antes os elefantes a dançar, a dançar, a dançar sobre meu corpo aberto.



[Primeira experimentação de tinta acrílica
Acrílica sobre papel couro preparado artesanalmente, composição com balão de látex (bolas de encher) - formato de livro- tamanho A2 - ilustração a partir do meu texto Outra vez]


Outra vez

A festa acabou. Espio tuas frestas no salão fantasmagórico. Uma bola de plástico colorido balança ao vento e estoura, pá! Pulo de dentro de mim e caio espalhada pelo chão vazio da festa, entre guardanapos sujos e pedaços de ilusões. Fico um tempo olhando para o lustre caleidoscópio de brilhos prateados, faço de conta que o lustre é lua. Depois, tombo os pensamentos para teu silêncio. Por quê? Por quê? Por quê? A festa acabou. Chegamos tarde, amor. Eu, enfeitada de flor, perfumada de espera, com um salto sem equilíbrio, com o coração convidado para o beijo teu, fico olhando as luzes refletidas no lustre, holofote da minha dor. Um brilho cai feito faca sobre meus olhos, parece barulho de porta que se fecha. Outro brilho cai feito arpão sobre meu peito, "da última vez que morri...", era esse o poema?, penso e uma lágrima seca. Um vento mais forte cobre o salão de marfim, o vazio parece feito de elefantes enormes e pesados a atravessar meu corpo e pensamentos. Eles riem "Como você pôde acreditar outra vez?", diz o elefante pisando sobre tuas mãos em meus cabelos. Eu,seca e partida, respiro aflita entre os elefantes, deitada no salão de festas vazio. De repente, pá! Outra bola estoura, mais parece tiro! "Dessa vez, precisa ser fatal", pensei. Mas não era, teu nome ainda estava em minha pele, um pouco esmaecido. Havia entornado café, chá, vinho, mas teu nome na minha boca vermelha vermelha ainda. Não um  ainda de às vezes entre véus, mas um ainda de mais vezes entre céus. De repente, a música rompe no salão, penso em me levantar, mas antes os elefantes a dançar, a dançar, a dançar sobre meu corpo aberto.

mardi 21 juin 2016

Dedicatórias - Entre nossos amigos Tempo e Destino...

Para a melhor
e mais linda amiga de
tooodo o mundo!
Que você consiga usufruir destes
contos de Adriana de uma forma bem
mupestre e tenha muito prazer em trabalhar
com os nossos amigos Destino e principalmente
com o Tempo!

Ano que vem teremos muito sucesso na
Iniciação Científica porque temos paixão pelo que estuda-
mos. Mas isso só foi possível porque além de termos
uma amizade como nunca tive na minha vida, a Adriana
consegue penetrar em nossas vidas como poucos escritores
conseguem! Se eu pudesse, pediria um autógrafo dela,
mas o Temporus Faltandus me atacou (pra variar rs)!

Nunca se esqueça que o cabelo cresce!

Um duente azul, uma flor-de-liz!

Te amo!
da sempre irmã,
Isabela



Livro: FALCÃO, Adriana. O homem que só tinha certezas e outras crônicas. São Paulo: Planeta. 2006.

Data: acho que dezembro de 2010


Um orvalho de amor  na minha memória!



Dedicatórias - Era uma vez uma flor lilás...

Ju,
o livro foi da
Regina que, por algum motivo desconhecido,
deixou-o com alguém que passou para outro
que vendeu para mim numa banca no largo
da Carioca.
E agora ele é seu!
Espero que, de alguma forma,
esta história encante seu coração como
encantou o meu quando eu era adolescente.

Já somos crescidas, mas o coração comporta
todas as idades ao mesmo tempo, é por isso que
é com ele que lemos.
Como nas histórias que já li, você
foi a personagem importante, marcante no romance
que é a vida.

Era uma vez uma flor lilás que
encantou minha travessia, tornando o
caminho mais alegre. Se "viver é muito
perigoso", como diz o Rosa, que suas palavras doces
me deem coragem para seguir adiante.
Obrigada por fazer parte da minha vida!
Beijos, flores e boa leitura!

Laís Naufel

Inverno, 2015

[para dar sorte]



Livro: MACHADO, Ana Maria. Alice e Ulisses. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.



Uma concha do mar [que sonha] na minha memória!

Cartografias do inconsciente

Cartografias do inconsciente 

À direita, um coelho sábio que fala com um machucado na cabeça, mas ao final do corredor vira uma cobra. Ao centro, um crocodilo gigante na sala da antiga casa. À esquerda, Ulisses, um cachorro intelectual que, após devorar um caderno sobre Nietzsche, nos explica coisas inteligentíssimas para, segundo meu pai, três ou cinco elefantes marinhos. Acima, uma menina que cai do céu e abre o ventre, ao final da dobra, outra dobra dobra.


samedi 18 juin 2016

Livro novo

Livro novo

Encontrei um livro novo hoje. Sem título ainda. Estava empilhado no meio da biblioteca, terceira fileira, poesia brasileira. Decidi levá-lo comigo para casa. Já no caminho, na noite recém-nascida, a rua deserta, abri ao acaso e fui lendo e andando ao mesmo tempo. Viro a página. E o livro me faz uma mímica. Não adivinho. Dou uma gargalhada. Ele também ri. Era um poema escondido que fugiu para o epílogo. Mas deixou um cheiro de junho. Fechei o livro de pirraça e fiquei olhando a capa, parados no portão de casa. Ai, livro novo, você lembra tanto um livro velhinho meu, um livro que perdi, rasguei sem querer a lombada, joguei água, manchei de tinta. Mas teu rosto,livro novo, é ainda calmo sem título, novo com cheiro de antigo, um cheiro que tinha perdido. De capítulo em branco.



mercredi 15 juin 2016

Amnésia

Minha alergia voltou. O coração da palavra trem é grande e silencioso. Cabe em qualquer lugar. O coração da libélula é parado e pequeno, não muda de cor quando se desespera. Fico pensando essas coisas que não me levam a nada. Não sei quando dormi ontem. Esqueci todas as luzes acesas sobre um nome que não consigo me lembrar. Quem é você? Esse rosto meio apagado no porta-retrato da memória. Parece que fez frio. De quem são essas palavras que sangram meu corpo?  Preciso tomar banho. Limpar palavras desconhecidas que pesam. Algumas agarradas no meu cabelo são histéricas. Sussurram coisas que nunca vivi. Que tatuagem é essa em minha pele? De quem são essas memórias que dormem em minha casa? Devo acordá-las? Que dia estranho. Eu não sei do que elas falam. Qual será o solvente das palavras que mentem? As garras das palavras abrem a antiga cicatriz. Quem são vocês? O que fazem aqui? Parece que esqueceram uma foto 3x4 ao meu lado.  Atrás, um número de telefone anotado. Faltei o trabalho hoje. O café esfriou. Pela janela, dentro da garrafa de vidro, os carros se empilham. Dentro da foto, a tatuagem de dragão acordou, incendeia o desconhecido rosto. Faíscas no baile de papel. Penduro minha pele para secar do amor. O incêndio dentro do retrato a incendiar meu quarto.  O coração da palavra osso é fundo e treme pouco, mesmo no frio.

samedi 11 juin 2016

11 de junho

 Acordei cedo hoje e sem despertador. Pensei em te escrever, mas tomei café. Preciso comprar pão e queijo. Lembrei da música do filme Moscou, de Eduardo Coutinho. Era bonita. Nunca imaginei que aquela música fosse escuridão entre pequenas luzes de isqueiros, duas vozes ao fundo. Cantei sozinha, na cozinha, a xícara de leite, entre as mãos um frio. Confundo o frio com tua lambida no pescoço, mas não tremo como na memória. Penso em tudo que preciso fazer nesta semana. Deito de novo. Penso em te escrever, mas leio um poema da Ana C. Ela me conta "imagino como seria te amar". Penso em te escrever, mas viro a página. Estou realmente cansada de morrer. É cansativo morrer, outra vez. Deveria ser agora a fase de começar a achar graça de tudo. Mas não acho. Decido me levantar. O lençol revirado, uma meia perdida atrás da cama, junto com uma caneta que falha. A boca seca.  Esqueci as luzes da casa todas acesas em cima do teu nome. Abro na página do poema em gota d'água. Ana diz assim "Cada noite que desce sôbre uma espera vã traz-me à bôca um gôsto de vinagre". A culpa foi minha. Acentuei mal nosso amor. Sôbre , bôca e gôsto em circunflexo ficam à moda antiga, como eu sou. Não te expliquei essa parte. Os cachorros da rua parecem mais quietos hoje. O vento gelado toca meu seio. Tiro o casaco. Meu corpo não te lembra. Meu corpo não mais te lembra. Penso na pele como a parte mais profunda. Aula de filosofia. Conversas dos almoços de terça feira.  Acho que vou andar de bicicleta. Sonhei com meu ex hoje. Preciso comprar contact para encapar os livros. Tenho vontade de jogar fora todos os quadros que pinto. Vou desistir de tudo. A vida sem facebook parece maior. É como andar no centro da cidade interditado e sem obras. Os prédios altos tombam de silêncio entre meu corpo pequeno. Fico parada nessa imagem como uma fotografia. Preciso confessar-me, mas não neste silêncio de cidade grande vazia. Não queria esquecer seu rosto. Preciso marcar o alergista.  Para onde foram todos que nunca estiveram em minha vida? Acho que sempre morei sozinha.


[Meu corpo quente e amolecido, febril, os olhos pesam,uma flauta toca, algo aperta meu coração, não deveria, as palavras se embaralham lentas em minha mente como se nadássemos num imenso aquário, eu e as palavras, e lembro daquela brincadeira da infância de ficar debaixo d'água até quando aguentar o fôlego. Eu sempre perdia e a superfície me erguia com suas mãos fortes e violetas, o ar voltava ao corpo enfim. Mas um dia, um dia, eu lembro, não conta pra ninguém? Eu tinha dez anos, estava sozinha no azul da piscina da minha avó quando o Destino surgiu. Brinquei com o Destino de ver quem tinha mais fôlego debaixo d'água, e ficamos um olhando pra dentro do olho do outro entre águas. Destino se fantasiava de peixe com asas,depois mudava para balão de fala,   eu ria, mas outra vez me concentrava. É que a nossa brincadeira era  diferente, a brincadeira da gente era: se eu perdesse o fôlego, era ele quem me levaria em seus braços longos, não  para a superfície, mas para a profundidade azul. 55, 56, 57, 58, 59 ,as bolhas aflitas surgiram de minha boca, as mãos da superfície me erguiam, mas as do Destino me puxavam pro fundo...]

vendredi 3 juin 2016

A descoberta do mundo ou Nossa última memória


A descoberta do mundo ou Nossa última memória


Primeira aula de pintura a óleo (Experimentação)

óleo sobre a tela (com espátula) - 03/06/16





Novelo

[Queria te contar uma história antes, é breve. Foi uma história de hoje, inclusive. Fora do livro. Tem a ver com folhas secas e borboletas pintadas nelas. O trabalho da Ana é esse. A Ana, você não vai saber quem é, mas basta fechar os olhos e imaginar barulho de folha seca quando a gente pisa. Essa é a Ana. Agora que você conhece a Ana, posso continuar a história . A Ana pinta borboletas em folhas secas. Perguntei se as folhas não iam apodrecer. Ela me disse que iam, claro que iam. Era essa a ideia. A história acaba assim. Elas iam apodrecer, mas era essa a ideia, aceitar que as coisas findam.]


Parece que acabo de dormir dentro de uma saia rodada, tudo gira pastel, está assim como um sol em pó amassado por algo árido próprio do tempo. Há uma melodia esquecida de seu nome, mas que toca incessantemente dentro de mim, entre um vento e um lilás que toca o que é morto, a minha volta me movo. Há flores secas [daquelas passagens antigas da infância] entre nossos dedos nus que se descobrem em silêncio, na linha destas folhas, olho para não vê-las, como elas "avoam" dos meus olhos como se, subitamente, descobrissem a vocação para libélulas, pombas, açúcar que brilha  longe do teu céu da boca, choro, não há mais a esperança antiga, afundei... Mundo, tenho descoberto suas dores. Como posso continuar? Lembro do mar, da imensidão desta infância, cantava pro azul, era belo acreditar na mágica,  sinto medo, me obrigam a endurecer como se não pudesse ser o rio apenas, o rio apenas...