samedi 11 mars 2017

Ciúme caligráfico

Ensaio a cena
beijo de papel

Mas você me arranca,
rápido, do quadro,
risca a tinta
me borra
grita

Rio alto
abro calmo
meu caderno,
palco-cena

Escolho o rosto
E salto

mardi 7 mars 2017

Roteiros, roteiros, roteiros...


3 de fevereiro, noite

Monstros marinhos, desvio.
Festa na vila antiga
pintada à canetinha 
um vapor místico:
centro da praça.

 A multidão agitada.
Augusto me escapa.
A cigana me encara.
"Escolha o seu cristal, criança. Sente aqui.",
Caixas de feira, o banco e a mesa. 
Tenho agora uma família de três cabeças.
"Azurita. Abalone. Haulita. Malaquita. Turmalina", 
a maga dizia, eu repetia, de forma instintiva.

"Escolha seu cristal, criança.", a cena se repetia.
Na porta, Augusto fuma.
"Quantas noites a noite tem?"
Minhas mãos pensam o cristal. Ele levita. 
A cigana enseria "você é uma de nós.", não lembro mais.

Olho rápido o cenário atrás...
A praça tomada de mulheres-bruxas presas
prestes a queimar.  Breu
Augusto em surto, outra vez.

 Uma voz delas canta "Juliana"
 Aquela voz ímã, vinha, vinha, repetia. 
 Apenas eu ouvia. Faísca.
Os monstros marinhos riam
a balançar seus rabos tatuados.

Augusto me escapa mais.
 Incêndio na casa da infância
"Falta pouco para eu nascer?"
A tinta vaza. Aqui, papel de mim.

Enquanto os monstros marinhos diziam 
vontade de tirar fotos.