Os barulhos da obra (me) ferem,
mas a casa ergue.
Entre os andaimes de palavras,
o Martelo orquestra o verso.
Dentro da minha cabeça,
sinfonia de ruídos
acorda o poema
balde, areia, cimento
e as vozes dos operários,
poetas?
Disfarçados, constroem a casa
ao lado de minha janela,
o barulho do Martelo (me) aperta
o barulho do Martelo (me) segreda
sonhos bruscos de tinta e pedra.
O (des)concerto recomeça:
da janela, espio a fresta,
parece um quadro de Tarsila,
corpos de mãos e mas nos rostos,
os pés desnudos.
A fresta recorta um som espiã
desvia o olhar em busca de onde
o Martelo fia o cinza como atira
o verso "Mas teus olhos precoces",
"de medo", outra vez, se esconde.
Ouço as tentativas, da primeira a quarta,
o Martelo,entre os andaimes da casa,
fere outras palavras e "de medo" escapa.
É a última estrofe, o cimento gira,
na verdade, é a palavra cinza moída:
botão de estrela na barriga do trator.
Os ruídos (nos) tecidos da casa
perfuram o nunca das paredes
sonhadas; perfuram os pássaros
de água e o mar invade as frestas, só,
a construção de areia estreme-céu.
A palavra cinza escuta o estrondo:
o Martelo estala "de medo",
o barulho cessa.
A casa pronta de espera, declama,
enfim, o último verso, porta aberta,
"Mas teus olhos precoces de medo,
não percebem.".
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