lundi 11 janvier 2010

Sobre o secreto sol e seus tons



CARTAS DE AMOR

"Todas as cartas de amor
são ridículas.

Não seriam cartas de amor
se não fossem ridículas.

Também escrevi, no meu tempo,
cartas de amor como as outras,
ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
têm de ser ridículas .

Quem me dera o tempo,
em que eu escrevia
sem dar por isso, cartas de amor ,
ridículas.

Afinal,só as criaturas
que nunca escreveram Cartas de amor
É que são ridículas."
Fernando Pessoa


A (im)possibilidade

Hoje eu sonhei.
Sonhei que a impossibilidade alçou um vôo possível em meu espírito e me leu. Leu cada silêncio meu, viu teu nome borrando cada pensamento em tons de suas cartas de amor de antigas promessas e sentiu-se tão livre para ser possível que se espantou de nunca ter tentado antes, bastava quebrar uma sílaba da sua coluna e lá se inauguraria outro verso.
A cidade parecia alumiar-se.
Cataventos gigantes giravam e espalhavam os tons invisíveis daquele sentimento, a palavra quebrou-se, com a sílaba perdida tornou-se: possibilidade.


A madrugada

Ele parecia estar assustado quando emergiu do sono no qual todos permaneciam por tanto tanto. Os relógios congelados em horas que nunca existiram, seus relógios marcavam a saudade do que nunca existiu. Mas o que ele não sabia era do verso que hoje inaugurou-se: a possibilidade e, por isso, as asas se debatiam dentro do menino, denunciavam seus silêncios, seu amor. Pouco a pouco, a paralisia se suspendeu e o coração da prece dela alcançou o dele.

Seu desespero empurrou suas pernas e assim, tombando em seus silêncios de antigos sóis secretos, sentiu os tons das mãos dadas as dela pelo mundo - há quanto não as sentia- mas eram tantos "mas" que desaprendeu a tentar, menos naquele hoje que inaugurava o verso da possibilidade e, subitamente, ao longo dos seus tropeços nas próprias pernas que o levavam ao encontro do seu silêncio, percebeu os seus "mas" fictícios e reais tão ridículos que riu de si mesmo e de tudo o que o mundo compreendia dos seus "mas", afinal, o que o mundo compreendia de seus "mas" e do coração da prece dela?

Correu até a janela do quarto deste coração que acordou apressado e sentia-se em verticais via lácteas  que o amor dele tanto compreendia em cada nuance. Ele, finalmente, equilibrando o coração em cima da cabeça, gritou: "eu ainda te amo" de voz muda escrita no pequeno papel. Estava assim, nas letras embaralhadas pela chuva: eu ainda te amo. O "ainda" saltava pelo seu corpo, enrolava-se em seus fios, lhe fazia cócegas nas bordas das lágrimas até tornar dormente o espírito.

A possibilidade emergindo assim tão violáctea a fazia pensar que estava dormindo, então, abriu seus olhos da forma mais aberta que conhecia e também tornou-se nítido seu maior silencio: o Amor descobrindo-se livre do destino de ser impossível, entornou-se no olhar de ambos.

Ele,depois de ter escrito o pequeno papel de um verso-mundo e rir de todos os "mas" daquele amor, sentou-se na calçada em frente a janela.
-O coração da minha prece.
Ela, então, abriu a porta e correu até senti-lo em suas mãos, pulsando.

As madrugadas de tanto tentarem silenciar um amor que nunca tornava-se mudo, rompeu seu sono para inaugurar naquele hoje o verso possível do coração da prece de um amor-mundo que em beijos mudos agora entornava seus antigos eu te amo.

As nossas mãos dadas voltaram a caminhar sobre os antigos sóis secretos e seus tons, palpáveis para os corações de preces que agora oram sobre esta madrugada e seu impossível diluído pelo Amor.

Juliana Gelmini

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire