vendredi 16 octobre 2015

Não entre.

Você que mora no futuro
debruçado na janela
movediça da minha vida
do antes
do vício do cio de cicatriz por um fio,
não entre.

Você em branco, breu, nada, 
sem importância, passante na multidão da Cinelândia ou Presidente Vargas, vaga 
porvir 
num mapa de apenas [até hoje] uma grande e longa rua com um só nome
nome não teu,
não entre.

você preso no espaço do antes,
você que me olha, às vezes, da tela
movediça do tempo que sonha
[vela acesa]
e pisoteia o pouco silêncio do sótão,
Não entre.


você sem rosto entre tantos
você que talvez eu irei num dia
[ em tesão do ainda]
amar [verdadeiramente]
trocar livros e longos telefonemas
cheiros, vontades, cinemas
músicas e cartas mais bonitas 
medos e segredos da infância
[um urso que se chama Melvin]
cheiro de mel, beijo nos olhos,
mãos dadas, melhores amigos
um dia teu "namora comigo?",
não entre.

Você que um dia cansado do amor
acordou entre um enjoo e outro
depois de me apaixonar
a faca enfia [manso como um psicopata]
nas palavras
do antes,agora ontem
a incendiar
Mais um copo de vinho ou de chopp
entre noites que  você não veio
meu mas acordado
a escrever cartas de madrugada [rasgadas]
a enfeitar a porra da espera com argumentos fracos
a paixão no arpão do teu desleixo
você sempre ocupado, "depois eu falo",
de repente meu nome como uma palavra que pesa e confunde
riscado como se nunca existisse
você que mentiu, me iludiu, babaca egoísta
você não sabe o desfecho do hoje:
à noite, do  mais alto prédio de São Paulo,
no céu cinema, enceno Ofélia num rio
me atiro [louca e sem sentido] no teu risco.
Não entre.
Não entre.
Não entre.




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