mardi 1 juin 2010

Beatriz


Beatriz olhava fixamente para um formigueiro. Imaginava as formigas andando em skates–bandeids e dormindo em travesseiros-saquinhos de chá.


- Aonde estou?
- Dentro dos seus pensamentos.
-... como faço para sair daqui?
- e eu sei lá.
- Quem é você?
-Você.
- que isso! Ta doida?
- Esqueceu que você tá perdida dentro de você mesma, nos seus pensamentos?
- E agora?
- pergunta pra mim?
-E para quem que você acha que vou perguntar? Só tem eu aqui dentro!
- Claro que não! Você nunca se perdeu em pensamento antes? Sabe aquela história que a gente aprende sobre fronteiras? Essa palavra não existe do lado de cá.
- Como assim?
- Pensa em qualquer coisa agora.

Beatriz se lembrou das formigas com seus travesseiros de saquinho de chá e, subitamente, na sua frente, lá estavam.

- Ah, mas isso é apenas pensamento.

Então, uma formiga acordada andou até Beatriz e disse:

- Que negócio é esse de colocar a gente pra dormir com travesseiro? – e lhe mordeu.

- Isso não é pensamento, é real!
- e você não sabia?
- do que?
- que os pensamentos existem.
-Saber eu sabia, mas não que eram assim com corpo, voz e tudo.
- Mas são. O que você pensar: aparece, vive e respira.
- Não é verdade. Se eu pensar num rádio, ele não vive.

Foi quando um rádio passou voando lhe acenando de longe.


Beatriz estatelou.

- Que isso! Mas eu não pensei nisso.
- Esse ai fui eu quem pensou, desculpa, era só para me divertir um pouco, às vezes, é preciso. Mas não se preocupe, era um pensamento de vôo. Aqui dentro tem muitos caminhos, tenha cautela para não se perder nos lados mais movediços.
- Por que diz isso?
- Quando a gente se perde no pensamento, ele nos leva para onde quiser.
- Você fala como se ele tivesse vida.
- E não tem?
- Mas sou eu que dou vida a ele.
- Mais ou menos. Depois que nasce, o pensamento cresce e você não pode saber o destino dele.

Beatriz olhou o formigueiro que antes tinha imaginado e percebeu que tinha se tornado um bolo. Pegou um pedaço...

- Cuidado, é perigoso comer isso.
- Por quê?
- Porque não foi você quem o pensou, foi invenção do seu pensamento depois que o criou. Aqui, Beatriz, é território sem fronteiras, lembra? Tudo que pensa, brota, mas o destino do que brota não é seu, é dele mesmo...

Beatriz ignorando as palavras, comeu o bolo.
Sentiu-se estranha.
Fechou os olhos.
Então, realmente, acordou.



Juliana Gelmini
(co-autores: Beatriz e ela mesma, formigas e rádio voador)

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