lundi 16 juin 2014

A construção

Os barulhos da obra (me) ferem,
mas a casa ergue.

Entre os andaimes de palavras,
o Martelo orquestra o verso.

Dentro da minha cabeça,
sinfonia de ruídos
acorda o poema
balde, areia, cimento
e as vozes dos operários,
poetas?

Disfarçados, constroem a casa
ao lado de minha janela,
o barulho do Martelo (me) aperta
o barulho do Martelo (me) segreda
sonhos bruscos de tinta e pedra.

O (des)concerto recomeça:
da janela, espio a fresta,
 parece um quadro de Tarsila,
corpos de mãos e mas nos rostos,
 os pés desnudos.

A fresta recorta um som espiã
desvia o olhar em busca de onde
o Martelo fia o cinza como atira
o verso "Mas teus olhos precoces",
"de medo", outra vez, se esconde.

Ouço as tentativas, da primeira a quarta,
o Martelo,entre os andaimes da casa,
fere outras palavras e "de medo" escapa.

É a última estrofe, o cimento gira,
na verdade, é a palavra cinza moída:
botão de estrela na barriga do trator.

Os ruídos (nos) tecidos da casa
perfuram o nunca das paredes
sonhadas; perfuram os pássaros
de água e o mar invade as frestas, só,
 a construção de areia  estreme-céu.

A palavra cinza escuta o estrondo:
o Martelo estala  "de medo",
o barulho cessa.

 A casa pronta de espera, declama,
 enfim, o último verso, porta aberta,
 "Mas teus olhos precoces de medo,
 não percebem.".

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire