dimanche 28 décembre 2014

Domingo

Ajeitei meu cabelo com um pincel, o maior que tenho, lembro de quanto tempo não pinto com ele, ao lado direito do meu olhar, duas caixas de aquarelas, algumas bisnagas de tintas já moídas de tanto que usei, sim, o tempo em seus corpos metálicos, são meus dedos que as apertaram, acho bonito os objetos que se doam as nossas mãos, de forma que possamos tocá-los, eles não sentem medo de como ficarão,  apenas se entregam. Agora com um pincel entre meus cabelos,presos, alguns fios se arriscam entre o vento que não cessa, nada se move em volta, apenas por dentro. Aquela música incessante voltou, ela me conta da minha verdade, nem sempre a minha verdade pode existir junto com o que esperam de mim, não, sou muito menor que isso, e queria mesmo poder alcançar os pássaros dos olhos da minha amiga, pois é exatamente assim que ela me vê, um pássaro, acredita? Disse pra ela que nunca fui, ela teimou que eu era e que agora estava diferente, mas não, era o olhar do amor. Você já reparou como o olhar do amor mergulha o que existe em magia? Eu virei pássaro aos olhos da minha amiga, e agora sou acusada de não saber mais o antigo voo...  Eu quis vir aqui para me desabotoar, reparou que tinha muito tempo que não escrevia? Andei sendo feliz por esses dias, me enfeitei de libélulas, me enfeitei de palavra que sonha e alguns espirros que não me deixam. Se você acha que alguém não pode se enfeitar de espirro é que ainda não entendeu a linguagem secreta do vírus, ninguém ainda conseguiu traduzir em todo seu estado de completude a palavra atchin, eles me contaram, digo, o vírus que me habitou esse ano todo me contou, mas eu disse que manteria segredo, se a porta não abrisse nesse exato momento "Você tá bem?". Meu nariz coça, qual seria essa comunicação? acho mais fácil traduzir sinal de fumaça, nem sempre eu entendo o vírus, então, vou desistir, porque desistir também tem suas belezas. E deixo a água invadir o quarto, não é belo? Essa água que agora nos cobre até os joelhos,borra as letras dos meus livros, os nunca lidos, mistura as cores dos lençóis, embola minhas angustias, deixa a água invadir, até que todas as libélulas presas se sintam inquietas e se livrem de mim. Eu gosto muito de escrever, sabia? Aqui, sinto que sou realmente livre! Se eu quiser ser pedra, eu simplesmente posso ser e ficar no estado de pedra encantada até o tempo me acordar em outra criatura, gosto de visitar esse lugar, espiar as palavras, chamá-las para morar comigo, dentro de uma pequena história, fio de mim que nunca ouvi e vou deixando fiar assim sem pensar direito... quem sabe minha amiga não tinha razão: e se eu realmente tiver sido um pássaro que esqueci?
Tudo muda....

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