lundi 8 décembre 2014

Minha vizinha ou Via láctea contada por uma flor


Há uma rosa que se lança com seus vermelhos para minha casa, como se fosse mesmo um amor a nos olhar. Penso que é sempre bom ser amor como aquela rosa é, e é isso que ela me ensina todos os dias. Ela gosta de ultrapassar as grades, se erguer para além daquelas fronteiras e se suspende, brincando de vento, para me olhar. Eu e ela nos enamoramos, e vim escrever essa cartinha para ela antes de voltar a namorá-la de silêncio da minha janela. Acho que é um amor de irmã, sinto que a sua existência continua dentro de mim, seu vermelho me invade e me pinta também, de amor, de amor, de amor.
Eu entendo a sua loucura de querer se lançar para além do jardim, ela quer sentir! Pois posso entender seu pensamento no pensamento, a esperar a lua, pupila da madrugada. Pois essa rosa também é astróloga, na minha solidão, dei para contar-lhe todas as minhas investigações sobrenaturais da influência dos astros. E, ontem, quando o mundo desabou dentro do meu quarto (ainda está tudo bagunçado, com pedregulhos e meteoros que pulo para poder aqui entrar e escrever no computador) - imagine ao olhar para o lado vejo metade da minha casa desabada, mas a rosa também vejo, no lá que tanto parece perto, parece lado de dentro, sinto seu cheiro. É doce, mas sem enjoar, com quem anuncia afeto no mundo.
Mas quando em minha solidão lhe contei os mistérios do universo, essa rosa desaprendeu sobre signos astrológicos comigo. E ontem, como dizia, com o mundo se abracalando dentro do meu quarto (apenas), ela observava do outro lado da janela a invasão de cometas, bombas d'águas, flores silvestres a desabar em cima da minha cabeça, e eu aceitava... chorando doída. O gosto intenso da vida às vezes nos rasga? E me abandonei.
À noite, quando a cabeça dormia mas as ideias não, ela veio e disse que sabia o motivo daquele tormento celeste, eu fiquei em silêncio, disse que a lua dessa noite estava em câncer, eu sorri, ela disse também que a lua é a pupila da Madrugada e que ia pedir para essa noiva louca do escuro fechar seus olhos só por ontem.... para que eu também pudesse esquecer. E assim, dormi. Hoje, a rosa de vermelho me ofereceu um silêncio no qual morei (ou morri?) o dia inteiro, não sabia o quanto seria belo se vestir do silêncio de uma rosa, me orvalhou. Ela contou das árvores...  ensinou  que os troncos das árvores mais fortes precisam de espaço para respirar, sem esse silêncio os dois morrem, por mais que desponte a saudade de ser céu.



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