samedi 29 septembre 2018

A história do aquário




Há algum tempo tenho notado
neste aquário
cartilagens de tubarão
demoro muito para reconhecer
Faz de conta que é mar
e o oxigênio não falta,
mas a pintura descascada do coral
mente
Lembro dos cavalos-marinhos
o macho-grávido
o nascer transparente das manadas levadas
pelas correntes
minhas brânquias brancas incham de ar

Há algum tempo tenho notado
neste aquário
ossos de baleia,
dentro dela, Pinóquio em ócio finge
olhos de madeira
mas faz de conta que é mar
e o oxigênio não falta,
mas há mais de um ano
um casco boia, a tartaruga morta,
e o cheiro o cheiro o cheiro
repete dia a dia
como um pedido de alerta
nado pouco.

sem escamas
os cardumes de plástico
em nado sincronizado fingem:
o aquário é mar

hoje, vieram me buscar
cardumes prateados
pela edição filmada
do escafandrista das bolhas de ar.

O escafandrista esquece também as bolhas
um dia antes de alguma coisa
não consigo me lembrar

Respiro pouco,
as brânquias secam,
tento de novo,
faz de conta que é mar
e, dessa vez, sem respirar,
acredito:
mar.




(palavras e aquarela, jan. 2018)









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