dimanche 9 novembre 2014

Eco

II
Quando criança, ele guardava palavras de eco, escritas de luz e sombra. Era uma caixa repleta desses sons enfeitados de solidão. Alguns achavam que a solidão não era feita para enfeitar e ele ria, como quem guardasse um segredo. Ela procurava por encontrá-lo, há anos não o via. Encontrou o endereço de sua casa numa carta antiga, da infância. A saudade foi desembolando os nós dos pensamentos, nudez do medo. Decidiu visitá-lo, para lhe entregar sua caixa ecoada. Reabriu a carta do "só abra se você quiser voltar", descobriu um mapa. No canto direito amarelado, um botão de camisa velha pregava o coração do mapa.  "Aqui é lugar onde nos casaríamos", a legenda explicava. Os rios inventados de palavras das conversas que eram diárias... tudo passa. Quem seria ele hoje em dia? Os porquês não pediam resposta, a memória de seu cheiro entrou entre um medo e outro equilibrando-se. Seguiu os caminhos tortos, prestes a desabar em lá e  entrou no coração do mapa. Havia ali uma casa abandonada, feita de cartas, palavras borradas pela chuva, pela espera. Ela andou devagar, em direção à música que o vento inventava entreaberto na porta, histórias a ranger nas iluminuras da madeira velha. As janelas empurravam as cortinas para fora, eram compridas, compridas e finas, tecidas de água. O abandono da casa lhe fizera bem, ela pensou. E como um mar em ressaca, as cortinas lhe molharam dos pés a cabeça. Sacudiu o corpo, apenas o corpo, os afetos ainda ostravam-se. Também aberta de águas, a caixa de ecos que a menina segurava deixou escapar  "Quem aí está?"  Quem aí está?"

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