samedi 8 novembre 2014

sal

I
A cena era cotidiana, ela voltava para casa depois de um dia de trabalho, o sono pendurado nos olhos, as pessoas embaçavam em sua vista cansada, o dia empurrava uma série de tarefas adiadas, outra madrugada virada "será que vale a pena?", ela pensava quando desceu do ônibus e caminhou até sua casa, era um caminho mais repleto de escuridão do ultimamente. Na verdade, ela nunca tinha reparado o quanto aquele caminho era feito de escuridão, escuridão pendurada das árvores, nos cantos dos bueiros, espalhada na solidão das ruas tortas, feitas das mesmas pedrinhas daquela música antiga que sua avó costumava cantar para dormir, como era mesmo? "Se essa rua, essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava, ladrilhar, com pedrinhas com pedrinhas de brilhantes para o meu , para o meu amor passar." Cantou baixinho como quem desabotoa um alfinete de dentro do peito. E sangrou a esperar que algo de novo acontecesse, nem o silêncio estava, pois uma série enfileirada de pensamentos vinha e desvinha em seus passos,a rua parecia mais enorme, cada dia mais enorme, "será que as casas vão tombar?", as casas se inclinavam como quem balançasse de vento, mas não ventava por lá. Há anos tudo parecia imóvel, se não fosse pelos gatos que subitamente surgiam ao longo do caminho por debaixo de um carro ou de sua carência, ela acharia que caminhava numa rua de papel, cenário prestes a desabar de medo. Mas ainda pousava esperança naquelas ruas, como um beijo que pendurava os tecidos de escuridão para secar de amor...
Entrou em casa, não acendeu as luzes , queria experienciar os tecidos de escuro que desciam do teto e balançavam de afeto. Ela esperava por algo que acontecesse, uma carta, um telefonema, uma pessoa nova que fosse conhecer, mas só ouvia uma goteira constante a estilhaçar na pia da cozinha, "Vai que vira um rio?", a esperança cismava de enfeitar o pensar da menina. Mas naquela dia específico, talvez tenha sido o único brilho. O cotidiano parecia feito  sal. A janela se misturava ao aberto do céu, a noite queria crescer para vaga-lume, mas o medo despontava as preocupações. Tocou uma mensagem no celular,  a expectativa, "Não liga, já te expliquei tudo ontem.", o estrondo antigo. Então, era isso, a porta só estava entreaberta para ela, e ele visto pelas frestas orvalhava saudade... o céu tombava, tombava, tombava, mas ela nada sentia, não fugia, não fugia, em alívio voaria-se.


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