jeudi 16 juillet 2015

Correntezas Vermelhas

Não sei como contar, não sei como, não sei... foco no rosto do meu pai, seus olhos mudos, seu coração silencioso, nos cabelos da minha mãe ao vento, pretos como a noite em que estávamos, ou no barulho daquele mar madrugada, o silêncio aumenta o tamanho da existência? Na praia das Conchas, meus pais e eu surgimos no alto de uma encosta... virei meus olhos rápido para baixo, vi uma espécie de rio (ou seria mar no formato de rio?) profundo e escuro, parecia um brinquedo em miniatura visto de cima. Eu queria senti-lo, sentir suas águas geladas e acho que meus pais também, pois foram descendo como crianças em festa pela ribanceira da praia abaixo, se equilibrando entre as pedras com musgos até alcançarem o mar... no mundo só havia nós e o silêncio. Eu desci também, um pouco depois, rápidarápida. Meus pais se lançaram nas águas, splash!E sumiram por um instante entre o escuro do mar e o do céu, pareciam ser o mesmo tecido. "Pai? Mãe?", gritei, eles sumiram! Eles sumiram! E o medo me girou, tombei também no escuro rio... e tudo sumiu. O que aconteceu?

Lembro que fomos seguindo o fluxo desse rio escuro e estreito até desaguar no mar, mas não conseguimos passar, pois havia uma grande grade justamente no encontro das águas. Entre mares, ficamos olhando pra vigia que nos olhava quadriculados pelas grades. Ela tinha um olhar de sirene que dava medo! Não havia como continuar. Voltamos pelo mesmo caminho escuro e estreito de água em que fomos, na direção da ribanceira da praia. Eu sentia um medo que inventava monstros submarinos em meus pés. Meus pais pareciam nada temer, como se a água não fosse turva, como se a noite não doesse de tanta ausência, o faz de conta da felicidade os encanta, às vezes. Mas, em mim, ao contrário,  não havia faz de conta e meus medos iam me embolando na água... até que imobilizei. Meu Deus, havia uma sombra estranha de uma pessoa lá na ribanceira vindo na nossa direção, pra dentro do rio! Meus pais também estatuaram. Nós três imóveis de medo. E a pessoa bizarra móvel em raiva vindo. Quem seria?

Ela segurava algo em sua mão direita que ainda não conseguia ver. O rosto da estranha não parecia quieto, pulava a todo momento. Nada podíamos fazer, não havia saída, apenas a grade ao fundo. O mar corriacorriacorria mais forte quando ela lançou um líquido, parecia chuva ácida! E nos encolhemos, menos meu pai com seus olhos abertos para a "chuva", aquilo parecia flecha em seu rosto. Me doeu tanto! Será que caiu também em mim? "Pai, abre os olhos, abre os olhos, você ainda vê?", falei afobada e baixinho em desespero, engolindo um pouco da água escura. Ele fez que sim com a cabeça e algo da minha angustia desdeu um nó. A mulher se aproximava mais para dentro do rio, onde estávamos.

 A estranha vinha, meu Deus, o que era aquilo? O que era aquilo em suas mãos agora? E as pedras se silenciaram,  uma águia que descia em voo do céu congelou, a água estancou seu correr no momento de revolver uma onda, a estranha vinhavinha cada vez mais rápidarápida  e as nuvens adormeceram em prece... meu Deus, a mulher estava na nossa frente agora, mas o que segurava?  O quê? Meus pais e eu  imóveis de medo, o mundo congelado, apenas ela se movia em  ódio, eu não entendi, eu não entendi, meu Deus, a faca! Meus pais! Sangue! Tudo girou! A assassina de relance," esses seus olhos!", entendi, ela era da minha família, mas nada mais havia lá de antigo, rápidarápida, tentei me mover, mas não consegui, Ah, a última punhalada em mim! Meu peito! Vermelho aberto entre o coração parado e o sal da água. Ela sorriu.

Pesadelo do dia 16/07 (parte II)
 


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