dimanche 12 juillet 2015

Uma questão de autoria




Era uma carruagem-ônibus comprida de muitos passageiros e de velhice. Sentamos, eu e Cris, no último banco e a velocidade aumentouaumentou, parecia que íamos cair a qualquer momento entre os ruídos. Me agarrei aos cipos pendurados no teto do "ônibus aberto", enquanto o céu da paisagem ia trocando de cor, as árvores inexistentes iam mudando de formato, rindorindo, parecíamos estar dentro de um quadro de Dali. Chovia e a carruagem voava em meio aquela terra de grão amarelo escuro molhado, cada vez mais rápida, cada vez mais rápida, cada vez mais rápida, vrummm! E de um solavanco, ao final de um ano, chegamos na frente de um castelo redondo. Sai da carruagem destruída, toda molhada de chuva e descalça, não que eu tivesse perdido os sapatos, é que nunca os tive.
Várias pessoas saltaram do estranho "ônibus" também, foi quando avistei meu pai descendo do banco do motorista. "Pai!", gritei para ele me ouvir. Ele veio meio triste e li na nuvem do seu pensamento que era porque tinha atropelado um pequeno bicho ao longo do caminho, "Esse Neil Gaiman é um louco!", resmungou puto. "Neil Gaiman? Como assim?", perguntei. " Você não sabe?", ele riu. Eu fixei meus olhos dentro dos dele, diziam "Cathy, você está dentro dos sonhos do Neil Gaiman desde o início. Você está sonhando que está no sonho dele. Foi ele que criou tudo que existe aqui! Por isso, as cores do céu, as árvores estranhas, a velocidade e esse castelo!", ao dizer isso, meu pai desapareceu de repente e, como se eu tivesse passado entre as paredes, agora estava na entrada de um baile daquele palácio.
Havia um longo tapete vermelho, seria a língua de um gigante? Vermelho, vergonha. Não, aquele não era aquele meu lugar. Onde me esconder descalça, imunda e com a roupa rasgada? Tudo parecia ter sido recortado de revistas caras.  A fila ia andando, cada um deixava seu sapato em uma prateleira. Não entendi o motivo daquele rito até avistar um móvel com um sapatinho que brilhava, cor azul do céu sem nuvens, com um pequeno saltinho, parecia de vidro. "Cinderela!", gritei e comecei a rir sem parar achando aquele sapatinho ridículo. Definitivamente, não era para mim. E para que eu ia querer que fosse? Coitada da Cinderela, pensei, mas que destino sem mar.
Diante daquele pequeno surto, as pessoas não me olharam, elas tinham mais o que fazer. Aproveitei  pra dizer mais alto "Você me colocou no baile da Cinderela, Neil Gaiman, sendo a única a chegar descalça, pra quê? Eu não preciso caber neste sapato frágil que se quebra a cada passo, eu prefiro a liberdade de andar descalça, sentir o gelado do chão, sentir a chuva, a terra, o vento que bate, sentir! Prefiro estar toda esfarrapada, mas viver livre do que dançar uma melodia que não fui eu quem escolhi! Você ouviu? Vai à merda, narrador! Eu que sou a autora da minha vida!", gritei e, subitamente, acordei na minha cama, ainda descalça, com os cabelos molhados e a roupa esfarrapada da viagem surreal. Na janela do meu quarto, estavam agarrados uns cipos. Dei uma gargalhada, é,  é verdade, como Rosa sempre diz, viver é muito perigoso!


Meu sonho do dia 12/07 (Parte II)


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