vendredi 26 juin 2015

meia-noite

Falta um minuto pra meia noite, a hora mágica em que os pratos da minha casa voam  como discos voadores e as árvores sacodem "sins" como frutos maduros que descem girando, num baile silencioso com a noite, meia-noite, mais precisamente, e aguardo os uivos das saudades percorrerem a cidade, as maçãs brilham. Há três estrelas no norte da ponta do meu telhado (à direita) que eternamente uivam de saudade por alguém e deixam sempre no meio do "choro" brilhos caírem, exatamente à meia-noite, eles se transformam em vaga-lumes, bu!, o velho cuco da sala da minha avó sai da caixinha antiga de madeira de mais de um século, entre rangidas da idade. O cuco extravasa toda a sua vontade de gritar meia-noite, a hora mágica! E os pássaros voam, sapatinhos vermelhos são encantados por flautas místicas e dançam sem parar entre lilases, as chaminés que não existem se agitam entre o silêncio queimado em suas lareiras [seriam cartas? Faíscas? Borbulhas?] e a música arranha, vira ecoecoeco, eu e o mundo presos no instante da meia-noite, a hora mágica do escuro com seus olhos acesos de pantera. Fujo, me escondo debaixo da coragem, tecido rasgado, remendado. [Como me camuflar do rondo desses olhos?] E o cuco interminável continua a girar, os pássaros continuam a voar, as chaminés que não existem, as cartas, faíscas, borbulhas, a música arranhada, os pratos da minha casa, discos voadores, árvores sacodem "sins', frutos maduros [ou podres?], o baile silencioso a se repetir, incessantemente, meia-noite sem fim...



[Seria assim no fundo do mar?]


Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire