mercredi 24 juin 2015

Retrato falado para lugares-comuns: dos brilhos


[Pretendia fotografar o vermelho do céu às 5 horas da tarde, a angustia que me sufocava aos poucos, pretendia fotografar a espera que embalava meus uma cantiga de ilusão,  as casas de muros baixos em comunhão com a solidão, o abandono do sofá no meio da areia suja, não sei o que há de errado comigo. Eu saí para andar de bicicleta, levei a máquina fotográfica, não era nada disso que eu pretendia fotografar, a verdade é que eu não sabia e era bonito não saber.]
Hoje, a rua em suas pedras que brilham, também chorava? E continuei a trilhar com a bicicleta sobre a rua molhada porque tinha certeza que aquilo fazia cócegas em seu ser. Não estava sozinha, estava entrelaçada às memórias tão minhas que nada do que eu via, de fato, existia. Como explicar? Eu sentia uma saudade que ia me embolando pela areia da praia, sim, porque nesse momento eu já estava na altura da Praia da Bica e ainda não sai de lá. As raízes das árvores mais velhas, por que amo raízes? [Escrevi sobre o ar algumas palavras pro eco ficar repetindo ao longo de séculos e séculos, disse Amor em voz alta, o eco repetiu, mas nada sentiu, como poderia? Só as raízes das árvores mais velhas se estremeceram pela palavra enternecida.] Fui andando de bicicleta, quem sabe um dia eu não consiga encontrar? No meu pensamento, fiz de conta que era ostra no fundo do mar.
Mas o dia aconteceu e ainda não fechou seus olhos. Fiquei encantada com o eco, qual outro coração no mundo  também o escutou?, pensei. Há ainda uma alma que tenha a coragem da entrega?  Não era isso que pensei às 5 horas da tarde, mas tanto faz, para que saber que horas são? Por dentro, é sempre meio-dia. Hoje, o dia estava frio, até a bicicleta tremeu, as pessoas continuavam com pressa, passavam sem olhar  o céu enquanto eu o fitava em silêncio, o céu e eu, enamorados em brumas. Ele escreveu com  pássaros um telegrama. Os pássaros de papel escrevem  no horizonte, enquanto algumas pessoas caminham na praia, tomam seus chops e os sinais de trânsito abrem e fecham sem parar. Os pássaros de papel costurando minha angústia de talvez. Não, não aguento mais...
Rodopio e acabo voltando pro mesmo ninho, todo bagunçado, mas meu. O ninho que tantas vezes costurei pra sempre, remendando de amor, fio por fio, era bonito amanhecê-lo. Ali, eu sei que há o carinho, novelo desembolado que consegue brincar de ser, mas não sei, algo não fica ajeitado, algo parece vazado, algo parece vazar, vazio. Então, fico observando as outras aves de papel.Bússola gira, se agita. Outra vez tudo se desfaz.  Há vinho para embaçar meus sonhos? Pra que tanto sonho, meu Deus?, pergunta meu coração. Vou morrer de sonhos, eu sei. 

[Hoje, é quarta-feira, lembra? Não sei o que estou tentando encontrar com palavras, é uma cirurgia verbal,  cato a dor invisível que me habita, tento expulsá-la ao falar, a falta, a falta, algo falta, teu olhar.]


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