jeudi 25 août 2011

barco de papel

Desapareço,
barco de papel, 
no branco da lua,
pupila da madrugada
aberta, nu breu.




Pela fresta da janela vi papai.
De súbito, corri à porta da frente, queria que visse meu rosto.
As vezes, tenho medo que possa o esquecer como um borrão d'agua que desaba uma fotografia por conta de uma gota. Lá, se afogaria meu rosto,  em meio as memórias que nunca existiram.
Quando foi a última vez que vi papai?
Acho que era criança, na manhã caneca azulada quente de leite com seu beijo de bom dia, carinho a me estalar ainda hoje. Neste quando, conheci minha primeira espera. Meu pai nunca mais voltou daquela manhã. Desde então, espio um homem desconhecido vestido com as  mesmas roupas de papai que, todos os dias,  descama à porta.



Juliana, madrugada de agosto



vendredi 19 août 2011

Às crianças de todos os adultos,

O pequeno príncipe te manda um beijo com tanta vergonha que ficou até com a bochecha azul! rs








com carinho, tintas e chuva,
Juju

jeudi 11 août 2011

O incenso


Os acasos do vapor
véu de sonhos
a se estender no azul,
libertam águas-vivas transparentes,
almas leves nas mãos do Vento.



nas palavras o Incenso e o Vento (rs)

jeudi 14 juillet 2011

Dormência


Dormência é uma centopeia espichada que,às vezes, dança sapateado dentro de ti.
 



dimanche 5 juin 2011

A menina da xícara (ilustrado, primeira tentativa)

Às crianças de todos os adultos.

         A menina da xícara

Eu, Tempo, conto esta prosa de outrora
escrita à luz no fundo de uma xícara
Além do torto desenho da porta,
havia uma insólita menina viva!!


Fez de varal a minha fina linha.
Secou saudades, besouros e as pernas.
-Venta comigo!- me gritou da xícara.
E em meus seios sussurrava apenas...


... a tal espera altruísta de um Amor
que não cabe nos lábios do Poema.
Decidi, como estava de bom humor,
Soprar, de perto,as palavras da cena:

O Destino de mãos dadas ao vento,
Abriu veloz aquela porta antiga,
Compôs um ser imbuído do alento
que arde, há tempos,à boca da menina.



A carne de porcelana vertida
em chamas, assim, rimou para Sempre.
E, como todo Amor-luz,ventou a Vida
espalhada em palavras transparentes.


Agora, parto para uma outra xícara!
(E isso,(in)felizmente, te inclui na lista.)

             Sem pressa alguma,
                                          Tempo.










Conversei com os versos e eles se recontaram assim:


A menina da xícara



Eu, Tempo, conto esta prosa de outrora
escrita à luz no fundo de uma xícara.
Além do torto desenho da porta,
havia uma insólita menina viva.

Fez de varal a minha fina linha.
Secou saudades, besouros e as pernas.
-Venta comigo!- me gritou da xícara,
E nos meus seios sussurrava apenas

a tal espera altruísta desse Amor
que não cabe nos lábios nus do Poema.
Decidi,como estava de bom humor,
Soprar, de perto,as palavras da cena:

O Destino de mãos dadas ao Vento,
Abriu veloz aquela porta antiga,
compôs um ser imbuído, então, do alento
que arde, há tempos, à boca da menina.

A carne de porcelana vertida
em chamas,assim,rimou para sempre.
Como todo Amor-luz, ventou a Vida
espalhada em palavras transparentes.

Agora, parto para uma outra xícara.
(Infelizmente, isso te inclui na lista)

Sem pressa alguma,
Tempo





dimanche 29 mai 2011

jeudi 26 mai 2011

Vestígios


* Livre adaptação do poema “O caso do vestido”, de Drummond






A fé estala à porta, o jornal esfria a mesa.
Num vento fino de areia, entra à casa uma história vestida de renda e espera, um tal caso do vestido, da vizinhança, conhecido.
Não pede licença e se instala.


A cada passo ruidoso, um rastro de fim, vestígios de palavras que com tanto ruído, calou-me para ouvi-lo. Em seu vestido, trazia no colo mui devassado, um antigo relicário. Dentro dele, um retrato de família a espalhar sobre o tecido o incomodo de existir.


Insólita criatura que se arrastava pela minha casa entre corredores e madrugadas. Às vezes, parecia vapor de memória que se apaga. Às vezes, surgia tão nítida, densa aos olhos, que, aos seus desejos, se entortavam azulejos, quadros e gritos. Depois, lúcida, como quem pede desculpas, desaparecia.


Li, no seu corpo de tempo, o tal caso esquecido: a paixão, feto de sentimento brusco, irrompeu aquele retrato da família do relicário. Assim, entrou na fotografia, a outra, mulher de uma malícia que a beleza desmentia. Por vontade tentava, minuciosamente, arrancar a figura da esposa da fotografia, mas desta, apenas o rosto, conseguiu sobrepor. Assim, dentro do retrato, Éster, a outra, se emoldurou, vestida no vestido da antiga esposa, de mãos dadas ao “marido”. O restante da fotografia, aquela mulher do demo, não por gosto, mas por satisfação, cobriu inteiro de azul.


Pronto o retrato, eis que o amor pegou. Éster, às cegas, rodopiava no frágil tecido, como se seus passos não pesassem neste palco pregado de súbito. Colagem a desabar sobre o próprio peso e arrastar consigo qualquer vestígio de tal caso vivido.


O azul invadido de luz, descamou as saudades. Eis na fotografia, o rosto da sempre esposa, as filhas, os móveis da sala, as flores no criado- mu(n)do, tudo como antes era. O vestido fez-se novo, assim como o retrato, ao bafo de um dia que a espera despertou.


Fecho o relicário.
Ao meu lado, surgem.


Arrumo mais pratos à mesa, minha boca não diz palavra, parecia que àquela família sempre pertenci. Comiam meio de lado, e nem estavam mais velhos, “o barulho da comida me acalentava, me dava uma grande paz, um sentimento esquisito de que tudo foi um sonho”, não há vestido,nem nada, apenas o coração do instante.





Juliana nas Palavras e Fotografia

mercredi 18 mai 2011



O coração do Instante rima Mundo,
Te amo.





Juliana nas palavras e fotografia

dimanche 8 mai 2011

Sorte

  Sorte                    
    Quando  o Acaso rima com o Destino.
                                                                               
               
                      Palavras e ilustração: Juliana Gelmini 
                                      

Sentimento sobre a tela


Sentimento sobre a tela, Madrugada de Maio.

samedi 16 avril 2011

fios de tinta


   "Sonhos
Sonhos
  Sonhos
                       Sonhos
  Sonhos
  vou morrer de sonhos."
 Palavras de Frida Kahlo  (Diário de Frida Kahlo)

 Pintura de Juliana Gelmini

mercredi 13 avril 2011

Barbatana

* inspirado no conto Minsk de Graciliano Ramos




Barbatana

Eu tenho um peixe de escamas de Sol e com barbatanas que brilham como se fosse elétrico. Barbatana, nome comprido como ele, é espichado- espichado, parece até pôr do sol deitado em cima da tarde, mas é duro, de plástico laranja e uns olhos esbugalhados que nunca deram medo e, um dia, juro, já até vi piscar! Meu peixe de sol não nada, só desliza em pequenas rodinhas pela rua, pedindo areia de mar. Onde Barbatana passa, se juntam bichos de todo o mundo, até de filmes, foi assim que dançamos com os pingüins da moça que voa com um guarda-chuva. Numa cordinha, arrasto barbatana , parece sempre que vai se soltar,então, conversei com a corda para que não desistisse de ser corda logo no agora que Barbatana estava comigo! Ela, meio contrariada, entendeu, também amava Barbatana, e o segurou o mais firme possível. Barbatana,sempre insistia o mesmo pedido, queria ir à praia, e no lá onde a areia e a água se espalham, nadar. Assim, eu o levava, até que num confuso quando, me perdi dele. Descobri Barbatana na multidão de crianças que abraçavam meu peixe e, com ele, corriam para o mar. Minhas pernas empurraram o medo, seguindo Barbatana, ao fundo, me joguei no tom laranja que iluminava o oceano. As crianças surdas do meu desespero, arrastavam meu peixe no longe, precisava dele, as escamas de Sol, meus pés afundavam moles na água, talvez, o fundo tivesse sumido no espanto do nunca mais. Debaixo d’água, abri os olhos, flutuava em escamas, a luz derretida no azul, azul ... palavra que me abraçou toda, nos seus braços que pareciam mais cadeira de balanço da vovó, com o azul me apertando, apertando... De repente, a espera me arrancou daquela cor, desembolando os fios de tinta e à superfície d’água me entregou. Acordei sob uma jangada de escama- laranja , pôr do sol deitado na tarde que, ao anoitecer, desgrudado do horizonte, se soltou ao ar, assim, Barbatana asas de escamas, espichadas-espichadas, ao voar, se estendeu sobre o mundo, abraço de sonho.


Nas palavras Juliana Gelmini
coautor: Barbatana

dimanche 3 avril 2011

Aquarelável Destino




(Dentro do Sonho,
pequenas bandeiras,
enfeitam a espera.)

Dentro da casa que vive no sonho,
Abro a janela,
Chove,
fios de tinta,
imprevisível lira,

Aquarelável Destino.




Nas palavras: o Destino, a Casa e o Sonho

samedi 19 mars 2011

Amor


Amor

Palavra que beija o que toca.






aquarela e palavras de Juliana Gelmini

jeudi 3 mars 2011

Dentro do lá



Gotas calmas deslizam

acrobatas
no oceano de ar


a certeza:
dentro delas
estamos


dentro do lá,
infinito,
infinito,
enrola meus fios
em meio a cores
antes nunca vistas


cores
sentidos

a vida
na gota

no espaço sem tempo
no espaço pleno
plainamos

é sonho
é apenas sonho

a espera

a gota
se doa
à folha

e entorna
nos olhos da vida,




mercredi 9 février 2011

A estranha e a flor







No ônibus,
entra a estranha sem rosto,
estende-me seu pranto


Nas minhas mãos: flor e troco
dou-lhe a flor,
surge o espanto

barulho do motor

a flor muda 
no olhar da estranha,
espreita a esperança

Além do troco,
o Amor.



Nas palavras Juliana, a estranha e a flor
(Fato real, janeiro de 2011, Rio de Janeiro)

Carta ao Neruda



Neruda,
"O que a bicicleta abandonada fez com sua liberdade?"
foi nossa primeira conversa, lembra?


Hoje, te respondo,

a bicicleta abandonada
da sua liberdade,
fez-se pássaro,
esse de canto
ao fundo da sua memória


Agora, me diz:
Eram as beterrabas antigos meteoros?




Beijos, Juliana ^ ^

jeudi 3 février 2011

Fevereiro


  Fevereiro-de-longas-pernas:
                                              um passo,
                                                                passa,
                                                                           Março.

mercredi 26 janvier 2011

Cartão Postal





Para assistir:  http://www.youtube.com/watch?v=uwW5BWmq9h8


Tentativa de adaptação do trecho do romance Cartão Postal da autora contemporânea Livia Garcia-Roza


vendredi 7 janvier 2011

Avelã de lã

 Para as crianças






Avelã era feita de lã e morava na cidade de Tolelemô.
Nasceu com dois pés no lugar das duas mãos ou duas mãos no lugar dos dois pés? 
E em todos os dias se dedicou às flores que [como ela] eram feitas de alquimia: 
Flores de água doadas pelo Tempo; Flores de areia parecidas com o Sol; as flores de Nada que a olhavam da imaginação e a mais estranha flor, de girafa, que a Espera lhe deu.

Avelã de lã, mãos e pés trocados, lá ficou em Tolelemô, a espera da continuação da sua narrativa...

Pois que a tal flor de areia era do Sol um espelho e Marulhos,  menino feito de palavras, que lá morava, espelhado na flor,  viu a si mesmo! 
Espantado, do Sol até a Terra pulou e foi perguntar quem era essa tal estranha flor...

A flor lhe contou que de nada sabia:
- só sei que brotei de uma criatura sozinha, feita de lã, que no lugar dos pés, tinha as mãos ou no lugar das mãos, tinha os pés?

Marulhos  pasmo com a notícia, respirou todo o ar que havia e, da sua expiração, se fez um Tufão.
Nele quase que Avelã inteira se desfez!
Os seus fios se estenderam de polo a polo do mundo! No Equador, até fizeram um gigante pula corda com a lã do seu corpo...
Marulhos, ao ver isso,  seguiu enovelando fio a fio até encontrar Avelã de lã.
Ao vê-la, entretanto, ela tanto ria que Marulhos pasmo de novo, perguntou:
- Como pode uma menina de lã e sozinha, em desfeitos fios,  com tamanha alegria?
- Como não poderia?- ela disse.
Avelã teceu novamente seus desfeitos fios em seu corpo e percebeu que nela agora havia  palavras de mar. E Marulhos reparou que nele se estendia um longo fio de lã  que unia, na palma das mãos dos dois, as linhas do Mistério e da Vida.







Nas palavras Juliana, 
Terra do Era uma vez

lundi 13 décembre 2010

sussurro




Há flores vestígios,
fios grotescos do vento
a espalhar teus cabelos
em desenhos esquecidos.



(Juliana na palavra e pintura do Chagall)

flores de areia






Há flores de areia, 
suspensas no Sol,
se derramam
em invisível véu
sobre o Amor.

(Juliana na palavra e pintura do Chagall)

o beijo



eu inteira era "castelo de mar e estrelas de areia" no teu beijo... 

flores de água


Há flores de água 
desfazendo-se 
em minhas mãos 
dadas a sua memória.



Flores de Nada


Há flores de Nada, 
brotam,
assim, 
do caos pleno 
à vida 
no coração do Tempo.




flores de Tempo






há flores de Tempo, 
fios de vaga-lumes
feitos de ti.

lundi 22 novembre 2010

TIC-TAC


Metódica
é medida
de pôr do sol
com farinha,
farelo de vida....

A palavra METÓDICA é muito METÓDI
CA mas tanto-TANTO que já está toda se coçando por estar  escrita assim Se-pa-ra-da, nem ligo e continuo a história rápida, já que metódica não tem tempo, só pressa, é palavra antiga e quadrada de corpo-relógio com hora marcada, e peruca (- é mais prático!- ela declara.). Além da maleta no topo da cabeça, que nunca abriu,
 - sou ocupada!- pensa alto e acelera o passo.
Ela não sabia mas sua maleta era viva, de olhos, orelhas e canto que Metódica  nunca ouvia.
TIC-TAC-TIC-TAC- seu coração-relógio batia,
e o TIC-TAC-TIC-TAC engolia outro dia.
Até que no meio da pressa, tropeça e, do lado de fora da caverna, desperta.  


Metódica,
Então,
acorda t                  r                a,
                    o                 t    
maleta aberta,
sem pressa,
relógio
ou esquema
que a adormeça
 viva.

Agora
é palavra
a espalhar
canto-plural
ao outro,
coração como teu,
humano.

Não rima
nem quer rimar
gosta do verso-acaso:
uns espichados versados
outros,curtos.
Entende a beleza imperfeita,
a assimetria plena
que nos constitui.

Metódica, quando quer,
até se vira, ao contrário,
ácido-tem:
- meto dica ao mundo inteiro!-
grita. 
- A pressa  oculta o Amor.

lundi 1 novembre 2010

Pela cidade

O menino, olhos-bola-de-gude, olhou-me, dentro do teu corpo de brancos cabelos, rugas e vazios.


Juliana, para meu pai.

dimanche 31 octobre 2010

Amor sem Depois


Chove.
Gotas espalham pensamentos, cílios, palavras
Hoje, aos 80 anos, é o casamento da minha neta.
Ela, olhos-girassol, toca o que o mundo guarda de laranja.


Num dia, seu olhar engoliu um inteiro Sol,
Era tanta luz, que meu saber de pupilas sabia, ali, havia Amor.
Foi por um menino muito tímido, ela me contou, que sentava no fundo da sala de aula e gostava de desenhar, inclusive com seus pensamentos, em madrugadas de vôo e num mundo outro, debaixo do lençol.


Sorri, era o destino que não vivemos, guardado no tempo,
que , finalmente, encontrou outro Amor,
e, nele, vive nosso depois, inexistente.


Ainda sinto sua falta,descobri,
das tuas rosas, que por ai, dançavam e, de repente, brotavam, por dentro.


Espalho no chão fotografias:
Viagem da praia,
lembra?


Fixo meus olhos no teu rosto e teu corpo se mexe, subitamente, pela areia branca.
Pisco,
E o vento da praia invade o cômodo,
me arrasta do corpo.


Por dentro da foto,
ao teu lado,
Acordo.






Juliana Gelmini

samedi 30 octobre 2010

contra-mão






Lembrei de ti,
de quando "andava de patins na contra mão"
no chão engravatado com velocidade a jato,
eu sei,é difícil.

As vezes, acordo assim, no teu corpo, aí, danço, ver de verde, Ah é, aprendi a dançar, inclusive quando o canto é expectativa, ônibus lotado, ansiedade,  bomba nuclear, o desequilíbrio e sua busca de cais, o Amor que se espalha, ou a Ventania,  que a Vida, quando é viva,  nos entrega. Prefiro a aspirar calmaria tom pastel.
O querer deseja a vida amanhecida de vermelho.


Juliana


Ím-Par

Ímpar:
guarda na sílaba
sua busca maior.
Ali, um Cais,
Será?


Par,
ímpeto,
Peito feito
Pupila dilatada:
Luz,
Canto,


O Amor se espalha:
flor que guarda Sol
FLOR que acorda Sol



Juliana

lundi 18 octobre 2010

Acrobatas

Acrobatas
Suspensos no ar
um fio de prata
os une,
fusão


Manhãs
Plural,
de dois.


Será o momento
do salto
sem redes de proteção?


Abraço do tempo
dobras de tecido
mutua entrega
pura
sagrada


o mundo se espanta,
canto em lá maior,


nossos fios, elo


Comunhão entre:
Vida,
Destino,
e Amor.












Orvalho:


Gota
de plena alma


Dança
a letra da página


Gota
de orvalho
espelha nos olhos
manhãs




Juliana

Flor que acorda Sol

Juliana

Flor que guarda Sol



Juliana ^ ^

Guarda-chuva



De repente, se abre e espicha.
Com chuva, canta: uma gota se lança, plim!
Outra gota acrobata salta, escorre em seu corpo
e se espalha num transparente borrão que o chão  acolhe na palma da mão, pequena poça.


A chuva cansa.
O guarda-chuva,então, se encolhe, novamente, criança e espera o tempo das gotas no seu corpo metal- pano.


A madrugada, certa vez, despertou meu guarda-chuva:


- Duvido! - declarou meu guardador de chuva.


Tremi, sem encarar seus olhos redondos.


- Duvida?? - insistiu em tom rouco


- Do que??- respondi ainda com sono.


- Duvida que... fechado, sou infância, e encolhido fico eu e meu corpo até que,  em dias chuvosos, o tempo me abra em outro... Assim, quando quero, sou criança e, quando enjôo, chuvisco, e aberto, já adulto, espreguiço.

Sorri,
"Um dia,quero acordar, assim, guarda-chuva."
E olhando seus olhos de pano, arrisquei:


 - Me ensina?!




Juliana Gelmini

dimanche 29 août 2010

Ideia de palavra

*Influênciada pela autora contemporânea linda: Adriana Falcão.








Ela ajeita a flor do cabelo duas vezes, pra procurar palavra 
que escorregasse assim de repente do pensamento.
Mas não escorregou.
Não do pensamento.


O que ela não sabia era que palavra que tem coração e tudo
não escorrega nem nada mas beija o que toca.
E ela achou tão bonita aquela ideia que começou a encontrar 
palavra fogo-de artifício: ano novo
ou ainda palavra vaga-lume no olho: eu te amo.




Ela achou perigosa essa ideia de palavra que tem coração e tudo 
mas não escorrega nem nada
porque unia ela ao lá que existia dentro dela, lugar que antes
parecia mais impossível de chegar
só com a memória, ia de voo
mas lá sem ele, parecia soco

Então, bem no meio do lá, parou numa palavra de sal
e no azul dela se cobriu toda.






(Juliana e seu lado piegas  numa madrugada que esqueceu de dormir)